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Com as confusões criadas por Olavo de Carvalho, guru do presidente, muitos olhares se voltaram para a Virgínia a fim de entender o que pensa esse que influencia tanto o governo, gerando
cizânia o tempo todo. Como desafeto do sujeito há mais de uma década, desde os idos tempos do Orkut, conheço bem o modus operandi dele e sua turma. Por isso não tenho receio em afirmar: é
seita sim! Algumas características mostram bem isso. Em primeiro lugar, toda a seita desperta um grau de fanatismo cego. Para tanto, é importante a crença de que só o guru consegue enxergar
aquilo que ninguém mais é capaz. “Olavo tem razão” virou um bordão repetido nem sempre em tom de brincadeira. A turma acha mesmo que só ele viu de forma holística a coisa toda. Sua
dialética, aprendida com o marxismo, ajuda a manter essa aura: como dá uma no cravo e outra na ferradura, está sempre certo. Foi assim durante o impeachment de Dilma, na greve dos
caminhoneiros etc. Já a postura diante de Bolsonaro é mais contraditória: ele “fez” o mito ser eleito e emplacou ministros, mas é o maior crítico do governo e dos militares. Se der certo,
mérito dele. Se der errado, ele bem que avisou. Como toda a seita, os críticos precisam ser calados e os discípulos devem se sentir parte de um seleto grupo de escolhidos. Qualquer crítica
ao guru é repelida com uma chuva de ataques pessoais, acusações de traição ou algo que o valha. Diante de cada erro ou incoerência do mestre, seus seguidores repetem que só quem acompanha
seus cursos é capaz compreendê-lo na totalidade. São as lindas roupas invisíveis do imperador. Só os mais inteligentes conseguem enxergá-la. Os demais apenas contemplam sua nudez. Como
afirma Czeslaw Milosz, em “Mente cativa”: “O inimigo, de forma potencial, sempre estará presente; o único aliado será o homem que aceitar a doutrina 100%. Se ele aceitá-la apenas 99%,
necessariamente deverá ser considerado um inimigo, pois do 1% remanescente pode surgir uma nova igreja”. Basta ver como olavetes tratam os antigos aliados. O cantor Lobão tem sido massacrado
por criticar essa postura. As seitas costumam apelar para um simplismo extremo. “Séculos de história humana, com suas milhares e milhares de questões minuciosas, são reduzidos a algumas, a
maior parte termos generalizados”, escreveu Milosz. Isso dá a ilusão de conhecimento pleno, fornecendo respostas para todas as perguntas. Teses conspiratórias seduzem: globalistas controlam
tudo, a imprensa é vendida e há comunistas por todos os cantos. Depois de atacar a tudo e a todos com xingamentos, vem a reação. Daí o guru banca a vítima. Quem criticar essa postura, só
pode ser obcecado ou invejoso. Novamente, uma resposta típica das seitas. _Artigo originalmente publicado pela revista IstoÉ_