Laerte viaja à tevê dos anos 50

feature-image

Play all audios:

Loading...

Capitão Tigre é um dos personagens principais de Muchacha Laerte Coutinho vive uma crise que o atinge de várias formas. No trabalho, na intimidade, no contato com os outros. Não dá para


apontar onde ela começou, hoje está "tudo no mesmo saco", mas a perda do filho cinco anos atrás tornou as coisas ainda mais difíceis. "O trabalho com a criação de histórias é


um sistema em que tudo se mistura", diz. O que o afeta pessoalmente com certeza vai aparecer no trabalho e vice-versa. O cartunista acaba de publicar, pela Companhia das Letras, o livro


Muchacha, falando dos bastidores da televisão nos anos 50, um universo que o interessa desde Laertevisão (Conrad). A história em quadrinhos mostra um típico programa da época, feito num


formato que o aproximava do teatro. As produções eram ao vivo, não havia videoteipe. "A tevê era ‘sem camisinha’", brinca Laerte. Os profissionais se expunham muito mais e ele diz


que gosta de comparar a estrutura antiga com toda a parafernália disponível hoje. Esta noite, ele participa de um Café Literário com o escritor Marçal Aquino (Cabeça a Prêmio) dentro da 1ª


Bienal do Livro Paraná. CROSSDRESSER No mês passado, o desenhista assumiu publicamente o seu gosto por usar roupas e acessórios femininos, o que faz dele um crossdresser. A revista Bravo!


publicou entrevista e fotos em que Laerte mostrava um corte de cabelo chanel elegante e brincos de pedras vermelhas que combinavam com o esmalte das unhas. Para ele, a experiência de se


travestir é "libertadora" e envolve "articulações supercomplicadas com a sexualidade". Não se trata, pois, de uma moda nem de um fetiche. "Eu sinto que as pessoas


estão curiosas [a respeito do crossdressing], mas existe uma inibição e um constrangimento no ar", diz. Ele conta que alguns amigos acharam a sua atitude corajosa, mas a maioria não


falou nada. "Depois de ‘sair do armário’, eu vi que o mundo não caiu, nada mudou e tirei uma carga dos ombros." AO TRABALHO Há dias em que a autocrítica e a insegurança o


imobilizam. É quando tem dificuldade de desenhar ou de investir no que faz. Depois, essas sensações passam e ele consegue amenizar a "autoflagelação". Durante a entrevista, feita


por telefone ontem à tarde, Laerte comentou que estava lendo Balzac (1799-1850), surpreso de ver que o autor francês do romance Ilusões Perdidas havia traçado um plano de como seria toda a


sua obra quando era apenas um jovem e ainda não havia escrito quase nada. Para o cartunista, o processo é diferente e os projetos são realizados à medida que vão surgindo. É o caso de


Muchacha. De início, foram cartuns publicados em jornal e blog. Tempo depois, percebeu que podia fazer algo a partir deles. "O livro não é uma coletânea do jornal. É aumentado e


consolidado, com um apêndice feito pelo Rafael, meu filho", diz. Rafael Coutinho, desenhista como o pai, é autor de Cachalote (Companhia das Letras) e participa de Muchacha com uma


história ligada à narrativa principal. LEITURAS Admirador do genovês Giancarlo Berardi, criador da série Ken Parker, Laerte, a pedido do jornalista, dá uma vasculhada na sua estante para


listar alguns autores que tem lido. E cita Na Prisão, de Kazuichi Hanawa; Gourmet, de Jiro Taniguchi ("Uma das coisas mais lindas [que li]...") e Masayuki Kusumi; e Isaac, o


Pirata, de Christophe Blain. Sobre sua presença na Bienal do Livro, Laerte admite que situações assim – participar de uma mesa-redonda num evento de literatura – não é comum. "Eu não


sou um literato, não construo teses. Mal e mal consigo pensar nas minhas experiências", diz. Por isso que a chance de vê-lo hoje, falando com Marçal Aquino, é rara e um dos pontos altos


do evento. SERVIÇO: Literatura, Cinema, Televisão e Quadrinhos: Como Se Dá Esse Diálogo? – Café Literário com Laerte Coutinho e Marçal Aquino. 1.ª Bienal do Livro Paraná. Estação Convention


Center (Av. Sete de Setembro, 2.775). Hoje, às 19h30. Ingressos: R$ 8 e R$ 4 (meia). Mais informações: www.bienaldolivroparana.com.br.