Ação da vale (vale3) responde por metade da queda do ibovespa em 2024 enquanto minério derrete

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QUEDA FORTE DOS PREÇOS DO MINÉRIO DE FERRO E RUÍDOS SOBRE PROCESSO SUCESSÓRIO NA MINERADORA FAZEM PAPEL DESPENCAR NO ANO A queda dos preços do minério de ferro, conforme as INCERTEZAS EM


RELAÇÃO À ECONOMIA CHINESA PREOCUPAM CADA VEZ MAIS, tem impactado as ações de exportadoras de commodities metálicas ao redor do globo. Contra a Vale, empresa mais pesada do Ibovespa, pesam


ainda os RUÍDOS EM TORNO DO PROCESSO SUCESSÓRIO DA PRESIDÊNCIA da empresa, desencadeando forte pressão nos preços de suas ações. Enquanto o referencial cedia, após o fechamento de


sexta-feira (15), 5,55% em 2024, aos 126.742 pontos, as ações da empresa recuam 19,14%, o que faz com que, segundo cálculos do Valor Data, a empresa seja responsável por 50% da queda do


índice no ano. Mas a empresa não está sozinha. Entre os pares locais, CSN Mineração ON recua ainda mais na janela, 29,92%. Lá fora, BHP e Rio Tinto recuam 19,13% e 16,78%, respectivamente,


em Londres, na Inglaterra. Daniel Sasson, analista de commodities do Itaú BBA, diz que o Congresso Nacional do Povo (NPC, na sigla em inglês), realizado no início de março, deixou o mercado


mais desanimado com o setor de construção civil, já que o governo não só não anunciou grandes estímulos direcionais como adotou um discurso mais duro, na linha de que não deve socorrer as


empresas do setor. "Como o setor imobiliário responde por 25% do consumo de aço do país, tem se tornado um ponto de atenção e até apreensão. Os últimos anos ainda foram bons em termos


de produção de aço na China, com os setores de infraestrutura e automotivo, para além da exportação do produto, sustentando a demanda. Se esses setores pioram, aí o tamanho do problema tende


a aumentar", diz. O que se vê até aqui em 2024 é um viés mais ligado para o consumo interno, corrobora Gilberto Cardoso, presidente da Tarraco Commodities Solutions. Segundo ele, a


população chinesa perdeu muita renda durante a pandemia, e sua propensão a investir diminuiu. Cerca de 50% da poupança da população era focada em imóveis, diz, mas não há confiança, e por


vezes dinheiro, para voltar a tomar esse tipo de riscos agora. E mesmo quem tem dinheiro está pensando se faz sentido comprar mais um imóvel ou diversificar. Além disso, nota Sasson, o


mercado de futuros do minério é muito grande, e oscila com o sentimento do mercado, tentativas de antecipação de decisões e estímulos, etc. "O minério já caiu cerca de US$ 40 dólares


este ano. Ninguém esperava que a matéria-prima fosse se manter no patamar dos US$ 140, mas os preços médios do mercado para o ano estavam próximos de US$ 120, com uma correção gradual. Foi,


então, a velocidade da queda que assustou", resume. Segundo os analistas, o movimento brusco ocorreu por conta de uma produção de aço abaixo do esperado nos primeiros dias de março e


também pela não ocorrência da habitual restrição de oferta sazonal nos primeiros meses do ano por conta de questões meteorológicas no Brasil e na Austrália. Assim, com muito minério chegando


e uma demanda pouco pujante, os estoques subiram e os preços caíram. "Acredito que os preços vão oscilar entre os US$ 100, US$ 110 ao longo do ano, mas acho que pode recuar mais antes


de estabilizar nesse patamar", diz Sasson. O contrato para maio do minério de ferro recuou 3,46% na sexta, para cerca de US$ 108, em Dalian, na China, acumulando um recuo de 11% na


semana e atingindo seu menor patamar desde agosto de 2023. Já na Bolsa de Cingapura, a commodity chegou a oscilar abaixo dos US$ 100, no seu menor valor desde junho e com queda semanal


acumulada de 14%. Cardoso também espera que, caso o governo chinês não anuncie mais estímulos, os preços da matéria-prima continuem operando próximos ao patamar dos US$ 100. Mas projeta que,


para o país alcançar a meta de crescimento de cerca de 5% no ano, medidas terão de ser tomadas. Seu palpite, com o setor de construção fragilizado, é que o governo pode focar esforços nos


segmento de infraestrutura, buscando uma eletrificação da economia. "De todo modo, os futuros do minério têm oscilado bastante e isso tem pressionado as ações do setor. Se os preços


baixarem muito dos US$ 100, podemos ver nova rodada de desvalorização dos papéis, já que a maioria dos bancos têm a commodity em um patamar entre US$ 100 e US$ 110 nos seus modelos. Se


baixar de US$ 90, US$ 80, já começa a pegar nos custos das operações de menor produtividade", diz. Em termos de valuation, Sasson, do Itaú BBA, acredita que, no nível atual, o preço da


ação da Vale já volta a chamar atenção. "Mesmo incorporando preços menores de minério, a empresa ainda tem um fluxo de caixa livre de 8% e um dividend yield de 6% (excluindo o que já


foi pago este ano), o que me faz acreditar que a ação pode andar cerca de 15%, 20%. Mas, até que se tenha uma estabilização do cenário de China, não vejo gatilhos de curto prazo para


suportar uma performance amplamente positiva." E, olhando para o micro da empresa, entende que a manutenção de Eduardo Bartolomeo até o fim do ano é positiva, pois permite o


estabelecimento de processo sucessório organizado. Segundo ele, é importante tirar esse tipo de ruído da frente, porque incomoda investidores. "Para o estrangeiro, que acompanha mais de


longe, esse tipo de coisa assusta", completa Cardoso.