
Play all audios:
O Ministério Público (MP) defende que os arguidos da Operação Influencer estão em condições de perturbar a investigação. Para além disso mantêm-se os perigos de fuga, de continuação da
atividade criminosa e de colocar em causa a ordem pública. “É perfeitamente defensável afirmar que, atenta a forma como os crimes foram cometidos, os arguidos certamente voltem a comunicar
entre si para, desta vez, perturbar o decurso do inquérito, designadamente na recolha da prova”, lê-se no recurso do MP para o Tribunal da Relação de Lisboa (TRL), citado pela agência Lusa.
O MP recorreu no que diz respeito às medidas de coação aplicadas em 13 de novembro pelo juiz Nuno Dias Costa, do Tribunal Central de Instrução Criminal (TCIC). A Diogo Lacerda Machado
(consultor e amigo do primeiro-ministro) foi então aplicada uma caução de 150 mil euros e a proibição de viajar para o estrangeiro, com entrega de passaporte. Esta última medida foi também
aplicada a Vítor Escária (chefe de gabinete de António Costa). O autarca de Sines, Nuno Mascarenhas, e os administradores Rui Oliveira Neves e Afonso Salema, da Start Campus, ficaram com
Termo de Identidade e Residência (TIR ) e a empresa ficou obrigada a prestar uma caução de 600 mil euros. No recurso, o MP reitera haver indícios fortes dos crimes em causa – corrupção,
tráfico de influência, prevaricação e recebimento indevido de vantagem e sublinha que “deve ser conferida maior credibilidade ao teor das conversas” nas escutas aos arguidos do que “à versão
apresentada em interrogatório, que é já preparada e ponderada em função da ‘verdade’ mais conveniente à defesa”. Para o MP, o juiz cometeu diversos erros de apreciação, sobretudo nos crimes
de corrupção e prevaricação, que não foram dados como suficientemente indiciados. Os procuradores apontam, por exemplo, que, para a corrupção, a vantagem que importa em termos penais “é
aquela que é oferecida ou solicitada, não sendo necessária a sua efetiva entrega”, e que a prevaricação não depende de um resultado, mas da atuação com o objetivo de beneficiar terceiros ou
de prejudicar o Estado. A Operação Influencer levou no dia 7 de novembro às detenções de Vítor Escária, Diogo Lacerda Machado, Afonso Salema, Rui Oliveira Neves e Nuno Mascarenhas. São ainda
arguidos o ex-ministro das Infraestruturas João Galamba, o presidente da Agência Portuguesa do Ambiente, Nuno Lacasta, o advogado João Tiago Silveira e a Start Campus. O processo foi,
entretanto separado em três inquéritos, relacionados com a construção de um centro de dados na zona industrial e logística de Sines pela sociedade Start Campus, a exploração de lítio em
Montalegre e de Boticas (ambos distrito de Vila Real), e a produção de energia a partir de hidrogénio em Sines. O primeiro-ministro, António Costa, que surgiu associado a este caso, foi alvo
da abertura de um inquérito no MP junto do Supremo Tribunal de Justiça, situação que o levou a pedir a demissão, com o Presidente da República a marcar eleições antecipadas para 10 de
março.