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A floresta portuguesa é particularmente penalizada pela “instabilidade e inércia política e legislativa”, circunstância que constitui “um dos problemas mais graves” para a sua gestão e
rentabilidade, sustentou Susana Carneiro, directora técnica do Centro Pinus, sublinhando que, simultaneamente, têm aumentado “as exigências, a burocracia e os custos”. O papel do Estado é
“fundamental para garantir o equilíbrio e a sustentabilidade da ocupação do território e das funções sociais, económicas e ambientais” da floresta, defendeu Susana Carneiro, alertando para
os perigos da monocultura. Nos últimos 30 anos, Portugal perdeu 43% da área de pinhal, em favor do eucaliptal e sobretudo do mato, frisou a directora do Centro Pinus, frisando que “é
importante inverter esta tendência”. Em Portugal, “não temos um quadro legislativo estável”, afirmou Jorge Humberto Cancela, do Departamento de Conservação da Natureza e Florestas do Centro
(ICNF), que também interveio no seminário “A gestão florestal e o ordenamento do território”, que decorreu hoje na vila do Espinhal, por iniciativa da Câmara Municipal de Penela. “Não é
possível gerir a floresta com uma perturbação constante”, advertiu aquele técnico, salientando que a instabilidade legislativa tem sido um problema “transversal a todos os governos”. Outras
circunstâncias como o facto de 87% da floresta portuguesa ser propriedade privada e apenas 3% do Estado (os restantes 10% são baldios) também dificulta a gestão florestal, referiu Jorge
Humberto Cancela, salientando que o Estado português, “enquanto gestor” da área florestada tem “um papel ínfimo, muito aquém do necessário” — em França cerca de 20% da floresta é estatal,
exemplificou. Além disso, “cerca de 80% da propriedade florestal”, em Portugal, tem “menos de três hectares”, acrescentou o técnico do ICNF, alertando que há “uma relação directa entre os
incêndios florestais e a dimensão da propriedade” (há mais incêndios nas áreas de pequena propriedade). “Não é possível saber a quem pertence dez a 15% da floresta portuguesa”, alertou
Armando Carvalho, técnico da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Centro (CCDRC). Para o fenómeno contribuem diversas razões, designada e fundamentalmente o facto de “não se
estar a colocar valor na floresta”, isto é, de ela estar a sub-rentabilizada e a “perder valor”, disse Armando Carvalho. No seminário também intervieram o vice-presidente da Comunidade
Intermunicipal do Pinhal Interior Norte, Ricardo Pereira Alves, o presidente da Junta de Freguesia do Espinhal, Jorge Antunes Pereira e o presidente e o director executivo da FLOPEN
(Associação de Produtores e Proprietários Florestais do Concelho de Penela), Luís Henrique Dias e João Ribeiro, respectivamente. O presidente e o vice-presidente da Câmara de Penela, António
Alves e Luís Matias, respectivamente, o presidente da CCDRC, Pedro Saraiva, o dirigente da Quercus (Associação Nacional de Conservação da Natureza) Domingos Patacho e o professor da Escola
Superior Agrária de Coimbra Pedro Bingre também participaram no seminário, integrado na XXIV Feira de Mel do Espinhal, que decorre no domingo. Lusa/SOL