O poderoso Plutão | O TEMPO

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É daquelas que não sai de casa sem antes ler o horóscopo do dia. O dela e o dele, naturalmente! E fica arrasada quando as coisas não correspondem. "Amor em baixa (o dela, claro!).


Aspectos antagônicos com Plutão e Saturno expressam dificuldade e inabilidade em realizar desejos e projetos no campo afetivo. Não insista em ir contra a corrente". "Dia perfeito


para o amor. O sol entrou em sua casa iluminando sua personalidade, trazendo de volta a autoconfiança. Lua cheia em seu signo traz grandes emoções. O cenário astral favorece novos amores


ou... Algum amor do passado pode retornar...". Pois é, depois dessa, perdeu o ânimo até para tomar banho. Que raio de amor do passado é esse que, de repente, pode voltar? Infernizando a


sua vida e tirando-lhe o pouco de tranquilidade que lhe resta? Já não basta a concorrência atual, ainda tem que aguentar a antiga? Ou seria a futura? Não. Definitivamente não. E foi aí que


resolveu grudar - 24 horas se necessário fosse. Na verdade, continuar grudada, pois a última coisa que passava em sua cabeça era deixá-lo respirar, sugando-lhe a energia e a liberdade. E que


se danem Plutão e Saturno! Remaria contra a corrente sim. E que se dane também a lua! - Josie? O que você está fazendo aqui? Aconteceu alguma coisa? - Não, nada! Resolvi fazer uma surpresa.


Trouxe uns croissants que você gosta pro café... Plutão estava certo; aparecer na casa dele, às sete e meia da manhã, em plena segunda-feira, trazendo pãezinhos não foi uma boa ideia. Além


do estranhamento e da recusa dos croissants, ainda teve que escutar o toque do celular vindo do quarto. "Quem será?", pensa desconfiada enquanto o vê saindo da sala para atender.


Não resistindo, pergunta. - Quem era? - Como? - Quem era? Para ligar a essa hora... - Engano! - Que coisa, hein? - O quê? - Ligarem por engano a essa hora. Eu xingava! - Bom, vou tomar


banho, que estou atrasado. Tenho de estar no hotel às 8h30. - Hotel? - Pro seminário. Temos um encontro com todos os representantes, inclusive os de fora. - Ah! Sei. E eu? Posso ir? Deve ser


interessante... - Claro que não! É um encontro de trabalho. Também você acharia um saco! Robotização e automação na indústria têxtil contemporânea, definitivamente, não é um assunto


interessante. Nove horas e ela lá, na entrada do hotel. Sentada, observa o entra e sai no saguão principal. - Por favor, o seminário... - Por aqui, senhora, no pilotis. E vai subindo, assim


como quem não quer nada. Sem crachá, é obrigada a voltar e, sentada na poltrona, continua observando. Menos mal que estava de férias. Se quisesse, poderia passar ali o resto do dia. Treze


horas. Sobe novamente, "só para uma espiadinha". Descobre que o almoço é no mesmo andar. Resolve ligar. - Vamos almoçar? Estou pertinho do hotel. - Não posso. Tenho que ficar por


aqui mesmo. Depois nos falamos, ok? - E jantar? Quem sabe... - Impossível! Fui designado a acompanhar o pessoal de fora. Depois te explico. Dezoito horas. Movimento no saguão. Com o rabo do


olho, o descobre de papo com uma lourinha de saia justa, sandália alta, camisa de seda e crachá. De onde será essa tipa? Será que... - Não! Não sei que mulher é essa de que você está


falando. Conversei com várias. E que negócio é esse de me seguir? Ficou louca? - Os astros não mentem... E eu vi. - Viu o quê? Você prefere acreditar no Plutão do que em mim? E quer saber?


Chega!!! Cansei!!! Vinte e três horas. Após um jantar maçante de trabalho, os dois saem. Ele querendo esquecer as contrariedades do dia, e ela, a nova colega, conhecer a cidade para onde foi


transferida. E, do alto do céu, a lua cheia em conjunção com Plutão promete grandes emoções.