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Reunidos na Régua, distrito de Vila Real, os produtores aprovaram uma moção com ações de luta e medidas para mitigar a crise que o Douro enfrenta e que vai ser enviada para o Presidente da
República, Governo, Assembleia da República e autarquias. "É necessariamente uma posição de força, mas aquilo que pretendemos é resolver uma questão estrutural que está colocada na
Região Demarcada do Douro e que está, em primeiro lugar, relacionada com um grande desequilíbrio de poder no mercado que existe entre as grandes casas comercializadores e os pequenos e
médios produtores", afirmou Vítor Rodrigues, dirigente da Confederação Nacional da Agricultura (CNA), promotora do plenário. Os durienses temem uma terceira vindima consecutiva com
dificuldades em escoar as uvas ou a sua venda a preços baixos, com alguns a já terem recebido cartas a cancelar encomendas de uvas para este ano. "A cartas postas a circular visam
semear o medo e alguma comoção para fazer baixar o preço das uvas e um novo corte no benefício", afirmou Vitor Rodrigues. O benefício é a quantidade de mosto que cada produtor pode
destinar à produção de vinho do Porto. O dirigente classificou os baixos preços que estão a ser praticados como a "raiz da injustiça" que se vive no Douro e defendeu um "preço
justo" que "pague os custos de produção" cada vez mais caros. Entre as medidas exigidas estão o aumento do benefício para a vindima de 2025, que a aguardente a utilizar no
vinho do Porto seja "prioritariamente regional", de modo a permitir escoar os excedentes de vinho da região, que o Estado fixe preços mínimos para as uvas e que estabeleça a
proibição de compra de uvas abaixo dos custos de produção. É ainda reclamado que a Casa do Douro possa ter "um papel efetivo na estabilização de 'stocks' e a compra, pelo
Estado, de 'stocks' excedentários das adegas para refrescar os vinhos armazenados na Casa do Douro. O presidente da Casa do Douro, Rui Paredes, aproveitou para referir que se está
a trabalhar em soluções com impacto nesta vindima e no futuro, as quais devem ser enviadas ainda esta semana ao Governo. "A proposta que for é diretamente para o viticultores e nunca
para os grandes produtores", garantiu. Ao alertar para a "situação difícil" na região, Vitor Herdeiro, presidente da Associação dos Viticultores e da Agricultura Familiar
Douriense (Avadouriense), destacou também os "preços de vergonha" que estão a ser praticados na região. Considerou que "isto pode ser o princípio do fim do Douro, que o que
está em causa é a liberalização total do benefício" e que, a cada ano que passa, os produtores "descem um patamar no limiar da pobreza". Manuel Fernandes, presidente da Junta
de Ervedosa do Douro, São João da Pesqueira, disse que na sua freguesia "já há pessoas a passar fome". "Temos que mostrar a nossa força para sermos ouvidos. Já estamos no
fundo, já não há mais nenhum patamar", sublinhou. Manuel Covas, produtor também de Ervedosa, referiu que os "políticos não passam cartão nenhum" à região e defendeu a
introdução de uma "taxa de sustentabilidade" a cobrar aos turistas e que reverta para os viticultores. Também Júlio Seixas, viticultor de Alijó, disse que se "devem taxar os
barcos que conduzem" os turistas para ajudar "os jardineiros do Douro". De Trevões, São João da Pesqueira, Paulo Tomé, defendeu a "obrigatoriedade de todo o vinho do
Porto" ser feito com aguardente regional, a proibição integral de entrada de vinhos de outras regiões e a destituição da direção do Instituto dos Vinhos do Douro e Porto (IVDP). Já o
conselheiro do Conselho Regional de Viticultores da Casa do Douro, Rui Tadeu, apontou o "enorme abaixo-assinado" que está a ser preparado. Leia Também: Buscas pelo jovem de 17 anos
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