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Se você tem contato com alguma criança, provavelmente já escutou falar na _slime_, uma geleca gosmenta à base de cola branca e feita nas mais variadas cores, perfumada, com glitter e o que
mais a imaginação permitir. Na internet é possível encontrar diversas receitas para a fabricação caseira, pois a maioria dos ingredientes é encontrada em papelarias e farmácias. A cola
define o tamanho da _slime_. Nas receitas mais simples, o creme de barbear dá consistência e o creme hidratante evita que a cola seque, deixando a massa mais maleável. Por fim, usa-se a água
boricada. Youtubers fazem sucesso ensinando as receitas, algumas adaptadas para dar mais liga ou chegar ao ponto desejado mais rápido, e aí está o perigo. As crianças são mais sensíveis a
substâncias tóxicas. LEIA TAMBÉM A pediatra Andréa Kasmim, membro da Sociedade Brasileira de Pediatria, lembra que muitas dessas receitas têm água boricada, bicarbonato de sódio e boráx,
composto químico usado em inseticidas, produtos de limpeza e medicamentos. “A manipulação da água boricada e do ácido bórico é muito perigosa porque pode intoxicar a criança e provocar até
queimaduras de segundo grau, especialmente em locais mais sensíveis, como a parte interna da perna”, afirma a médica. Andréa alerta: não existe uma dose mínima dos ingredientes para tornar a
brincadeira nociva e nem adianta que os pais façam a massa para as crianças brincarem: “O problema não está em fazer, está em manipular, devido à absorção cutânea”. Mesmo as _slimes_ feitas
com ingredientes considerados menos tóxicos podem trazer riscos para os mais novos. Os pequenos podem levar o produto à boca ou coçar os olhos e nariz com a mão suja, provocando intoxicação
de mucosa por ingestão, ardência e vermelhidão nos olhos. Nesse caso, o certo a se fazer é lavar com água corrente; caso não melhore, a criança deve ser levada a um pronto-socorro. Assim
como a maioria das crianças, Maria Eduarda Aranha, 10 anos, já testou várias receitas, uma delas com sabão líquido. O ingrediente provocou uma reação alérgica: a mão da menina ficou sensível
e com a pele mais grossa. Um susto para a mãe, Tatyane Aranha. Tatyane lembra-se de a filha falando alarmada, minutos depois da brincadeira, que a mão estava “esquisita”. Após o episódio,
Maria Eduarda voltou ao antigo processo, envolvendo cola branca, água boricada, espuma de barbear e bicarbonato de sódio. “Esse dá certo. De vez em quando, ela chega com outras receitas ou
traz para casa _slimes_ feitas por amigos. Alguns usam até esmalte, mas eu nem deixo a Maria Eduarda brincar com as que considero perigosas”, afirma. A pediatra orienta os pais a ficarem
atentos na brincadeira da criançada. “Não dá para deixar o filho manipular nenhum tipo de substância química, ainda mais sem conhecer a composição”, orienta a médica. Rafael Fuzeira, 13, faz
_slimes_ de vários tipos há dois anos. Experiente no assunto, ele sabe bem para que serve cada ingrediente e discorre sobre as diferentes gelecas existentes: _fluffy_, com a famosa receita
de cola, água boricada e espuma de barbear; _clear_, transparente e geralmente com glitter; _butter_, como o nome em inglês sugere, lembra a textura de manteiga; _crunchy_, com bolinhas de
isopor ou miçangas para dar textura; e a neon, entre outras. O estudante usa o boráx para chegar ao resultado desejado mais rápido, mas explica que ele não é imprescindível, “só demora
mais”, diz. Rafael nunca apresentou reação alérgica ao produto, mas conhece crianças que já tiveram alguma. Assim como muitos jovens que aprendem a fazer essas gelecas, o estudante chegou a
vender as _slimes_ na escola, uma forma de garantir o dinheiro para bancar a própria brincadeira. Vez ou outra, o pai e o irmão mais velho eram surpreendidos ao chegarem em casa e não
encontrarem o creme de barbear. SAIBA COMO SE PREVENIR A empresária Doris Guimarães Stikan faz questão de testar as receitas que a filha Lais Guimarães Stikan, 9 anos, leva para casa. “Eu
fico atenta se o cheiro é forte, por exemplo, e insisto em comprar todos os ingredientes. Sempre observo se eles podem ser tóxicos”, ressalta. “Eu não conhecia a _slime_ até a Lais chegar em
casa falando disso. Nós sentamos, vimos vários vídeos juntas e saímos para comprar os ingredientes. Ela já fez várias!”, disse. Doris vê muitas vantagens na geleca, uma delas é se tratar de
um brinquedo feito em casa e não comprado pronto. “Ela sabe as medidas certas dos ingredientes e acerta o ponto das _slimes_ dos amigos quando ficam muito molhadas. Eu acabo me envolvendo
porque me divirto, é relaxante mexer com isso”, completou. A psicóloga Francisca Hurtado, da Aliança Instituto de Oncologia, vê a brincadeira como positiva para o desenvolvimento cognitivo
das crianças e da relação entre pais e filhos. Francisca compara o momento a fazer uma receita na cozinha. “As crianças fazem pesquisa na internet ou aprendem com os amigos, isso desenvolve
a autonomia delas. Trabalham leitura, interpretação e o conceito de proporção, porque não adianta despejar os ingredientes”, explica. A atriz e influenciadora digital Flávia Pavanelli gravou
um vídeo com a irmã Maria Clara ensinando como preparar uma _slime_ sem boráx ou bicarbonato de sódio. CONFIRA: [embedded content]