Desaparecido, mas não esquecido: o caso davi da silva

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Há três anos, o apelo de uma mãe ecoou do maior bairro de Maceió e atingiu milhares de alagoanos. Desde o dia 25 de agosto de 2014, o clamor de Maria José da Silva, 47, multiplicou-se e deu


inicio a uma busca pelo paradeiro do seu filho, Davi da Silva. O desaparecimento do adolescente completa mais de um ano e ainda não se tem nenhum tipo de resposta para o caso. De acordo com


as informações divulgadas por testemunhas, Davi sumiu após ter sido abordado por uma viatura do Batalhão da Radio Patrulha da Polícia Militar (BPRP), no Conjunto Cidade Sorriso I, no bairro


Benedito Bentes. Segundo populares, o garoto estava com um amigo portando uma pequena quantidade de maconha quando foi revistado por militares da Radiopatrulha (RP). Durante a abordagem, o


adolescente ficou nervoso e passou a droga para o colega. Na sequência, os policiais acharam que Davi era traficante e colocaram-no na viatura da RP. Após isso, o jovem nunca mais apareceu.


Conforme a polícia, o caso, que está sendo investigado por uma comissão composta de delegados, liderada pelo coordenador da Delegacia de Homicídios, José Carlos André dos Santos, está quase


sendo concluído. “Esse caso, definitivamente, não está parado. Estamos dando prioridade máxima e a expectativa é de que parte das provas técnicas, requisitadas sob autorização judicial,


chegue em breve. É somente o que falta para a investigação ser concluída”, relata José Carlos. Maria José da Silva, que também é mãe de mais duas meninas, diz que o filho nunca teve


problemas com ninguém e que era bastante querido na região. “Meu menino nunca fez nada aqui. Todo mundo gostava dele e até hoje não sei o que aconteceu. Eu só quero encontrá-lo. A tristeza é


muito grande e machuca bastante”, desabafa. “É mais de um ano sem nenhuma resposta, sem nenhum sinal do que aconteceu. O caso chama atenção por se tratar de um rapaz, aparentemente, pacato


e sem problemas com a vizinhança. Durante todo esse tempo, existe uma família por trás que está procurando o paradeiro de um adolescente. A sociedade procura respostas. Continuamos cobrando


as informações sobre o caso para a Polícia Civil, Tribunal de Justiça, Ministério Público, Corregedoria Militar, mas, até hoje, continuamos sem resposta. Diante dessa situação, estamos na


cobrança das autoridades para que o sumiço absurdo desse adolescente de 17 anos seja esclarecido”, disse o presidente da Comissão de Direitos Humanos, Daniel Nunes. O caso de Davi foi um dos


poucos a ganhar visibilidade entre todos os desaparecimentos contabilizados no último levantamento. Após mais de um ano, além da fragilidade das investigações policiais, o sumiço do jovem,


denunciado por sua mãe, escancarou a violência usada por policiais militares contra jovens maceioenses de baixa classe. Dentre as motivações mais comuns apontadas pelas autoridades para


tantos desaparecimentos de jovens, estão temas como fuga dos menores por conflitos familiares, sequestros para exploração sexual ou para tráfico internacional de pessoas e órgãos e, no caso


de adolescentes, acontece a saída voluntária de casa por causa de relacionamentos. Segundo a delegada Rosimeire Vieira, que já atuou na Delegacia Especializada em Crimes Contra a Criança e o


Adolescente de Maceió, quanto mais rápido o desaparecimento for comunicado para as autoridades, mais chances há de a polícia localizar a criança. “Antes, era necessário esperar um prazo de


24 horas, mas hoje não é. Muitas vezes as famílias não sabem disso e, por este motivo, deixam de nos procurar”. Para o sociólogo e mestre em Antropologia, Igor Luiz Rodrigues, as


determinações sociais, políticas e culturais estão entrelaçadas e explicam o alto índice de desaparecimentos entre os jovens alagoanos.“Vivemos em uma capital que se apresenta como o lugar


em que se comete o maior número de homicídios cujas principais vítimas são os jovens de 15 a 25 anos”, explica.