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No dia 9, a publicitária Roberta Sabathé deixou Atibaia, onde mora no interior de São Paulo, e foi até a capital para buscar o pai, Raul Marcos Roberto Sabathé, de 85 anos, e levá-lo até a
emergência da unidade Brigadeiro do Hospital Sancta Maggiore, da Prevent Senior. Ele passara mal durante a noite e a primeira suspeita era uma crise de pânico, mas o diagnóstico comprovou
ser coronavírus. Com um histórico de um câncer de próstata, outro de rosto e quatro cirurgias, Raul Marcos foi então internado na UTI. “Nesse momento me disseram que eu só teria notícias se
fosse lá pessoalmente”, conta a publicitária. Durante uma semana, Roberta tentou por diferentes meios obter informações sobre o pai, mas só conseguiu saber o estado dele depois de ir duas
vezes pessoalmente até a unidade do Sancta Maggiore de Santa Cecília, onde Raul Marcos está internado e chegou a ser entubado na Unidade de Terapia Intensiva. Um dia depois de a reportagem
abordar a operadora Prevent Senior, a publicitária finalmente recebeu um telefonema de um médico do Sancta Maggiore com informações sobre seu pai. Segundo especialistas médicos e em direitos
do consumidor, o hospital coloca em risco os parentes dos pacientes ao obrigá-los a ir pessoalmente até o hospital. Ao entrar em contato com o pai infectado, Roberta passou a fazer parte de
um grupo de risco. “Oferecer informação apenas pessoalmente é um eufemismo para não oferecer. A operadora tem que dar informações por todos os meios e não expor as pessoas ao risco de
contaminação”, disse o diretor executivo do Procon-SP, Fernando Capez. De acordo com o infectologista Jean Gorinchteyn, do hospital Emílio Ribas, as informações sobre internados em qualquer
instituição devem ser prestadas por telefone. Ele disse que os médicos têm procurado até desencorajar visitas físicas. “A gente encoraja que as pessoas não frequentem os hospitais, optamos
pela não realização de visitações, até pelo risco de haver contaminação dos visitantes”, concluiu. A operadora Prevent Senior foi alvo de dois inquéritos do Ministério Público. O primeiro
foi criminal e para apurar a possibilidade de omissão de notificação de mortes no Sancta Maggiore por coronavírus. O promotor para o qual foi distribuído o caso optou pelo arquivamento, mas
o caso foi reaberto e um novo promotor será sorteado. A juíza Gabriela Marques da Silva, do Foro Central Criminal da Barra Funda, viu “justa causa” para manter investigações. A unidade do
Sancta Maggiore do Itaim, em São Paulo, foi alvo de inspeção da vigilância sanitária que constatou a existência de casos não notificados. A decisão que nega o pedido de arquivamento foi
enviada ao procurador-geral de Justiça, Gianpaolo Smanio, que mandou dar prosseguimento às apurações. O outro inquérito do MP visa a saber se as medidas tomadas pela Vigilância Sanitária e
as autoridades estaduais de saúde foram as adequadas. Em outra frente, o Procon-SP notificou a operadora duas vezes com questionamentos sobre a proporção entre o número de leitos e o de
associados. Segundo Capez, não houve resposta. O próximo passo será uma autuação. A assessoria da Prevent contradisse o Procon e afirmou que enviou os esclarecimentos solicitados. RESPOSTA
Procurada, a assessoria da Prevent disse ao jornalO ESTADO DE S. PAULO ainda que a política do hospital é a de ligar diariamente a parentes dos internados cujos telefones estão no prontuário
digital, justamente para dar atualizações sobre o estado de saúde dos pacientes. Ao ser informada do caso específico de Sabathe, a Prevent não respondeu. Uma semana depois da internação de
Raul Marcos e um dia após a operadora de saúde ter sido acionada pela reportagem, um médico da Prevent telefonou para a publicitária e, segundo ela, “foi muito atencioso”. As informações são
do jornal O ESTADO DE S. PAULO.