
- Select a language for the TTS:
- Brazilian Portuguese Female
- Brazilian Portuguese Male
- Portuguese Female
- Portuguese Male
- Language selected: (auto detect) - PT
Play all audios:
A mulher que representa em Portugal várias empresas ligadas à elite de Luanda e que chegou mesmo a ser administradora de uma delas regressou ontem a tribunal. Voltou a não se lembrar de
vários detalhes, garantiu nada saber sobre os donos das empresas e continuou a falar baixo Foi com voz baixa e frases pouco assertivas que Angélica Conchinha continuou ontem a depor na sala
de audiência do Campus da Justiça, Lisboa, onde decorre o julgamento do caso Fizz. A mulher que representa diversas sociedades de direito angolano referidas na acusação do Departamento
Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP) garantiu desconhecer quem era o verdadeiro dono da Primagest – que registou em Portugal a pedido do Banco Privado Atlântico e que é uma das
empresas centrais de todo o caso. A Primagest foi a sociedade que contratou Orlando Figueira, antigo procurador do DCIAP alegadamente corrompido pelo ex-vice-presidente de Angola Manuel
Vicente. E mais: para os investigadores os montantes recebidos a pretexto deste contrato foram subornos. “Não sabe quem é o verdadeiro dono da Primagest, nem desconfia?”, insistiu a defesa
do arguido Armindo Pires, homem de confiança de Manuel Vicente e tido pela investigação como um dos intermediários com o antigo magistrado. “Não tinha necessidade de desconfiar…”, afirmou
Angélica Conchinha, rematando: “Não, não sei”. Perante os questionamentos e a confrontação com documentos apreendidos no seu escritório, admitiu que teve de avançar com dinheiro próprio para
pagar o registo da empresa que lhe foi pedido. E que, mesmo tendo havido um incumprimento, nunca contactou o administrador da Primagest Manuel António Costa, apesar de o conhecer: “Eu tinha
de pedir a quem me pediu o serviço e não ultrapassar para ir ao cliente do banco”. “PARECE QUE ESTOU A SER TRAPALHONA” O que gerou mais perplexidade em tribunal foi o facto de Angélica
Conchinha nunca ter contactado Manuel António Costa apesar de ter estado anos à espera de ser ressarcida – teve de insistir com o banco para que o dinheiro fosse devolvido em 2011 e em 2013,
tendo apenas recebido o montante no final de 2014. Após esta e outras respostas que não conseguiram satisfazer algumas das dúvidas da defesa nem do coletivo de juízes, presidido por Alfredo
Costa, Angélica Conchinha acabou por fazer um desabafo: “Com estas respostas até parece que estou a ser trapalhona. Se para mim já parece, para quem me está a ouvir então…” NÃO SABIA DE
CONTRATO DE FIGUEIRA Questionada pelo coletivo sobre o que sabia sobre o contrato celebrado entre Orlando Figueira e a Primagest, de que era representante em Portugal, Angélica Conchinha
garantiu que não sabia de nada. “Só soube quando fui buscada”, afirmou. O antigo procurador do DCIAP terá recebido a título de honorários da Primagest cerca de 200 mil euros do total de 760
mil que a investigação acredita terem sido pagos como contrapartida pelo arquivamento de inquéritos em que Manuel Vicente estava a ser investigado. O GRUPO QUE NÃO É GRUPO Apesar de se ter
referido em documentação apreendida a diversas empresas – que as defesas sugerem pertencerem ao universo de Carlos Silva – como “Grupo”, Angélica Conchinha garantiu que não pretendia com
isso sugerir que se tratava de um grupo formal, “com uma holding por cima”, mas sim de um conjunto de empresas. Em causa estão a Ifogest, de que é acionista maioritário o general Leopoldino
do Nascimento; a Siprime – gestão e serviços, SA; a Leadervalue; a Ondjyla Capital; a Wacola; a Fundação Ondjyla; a Feurevogel; a Exictos SGPS; a Portexictos SA; a Dukestate Development Ltd;
a Seven Capital Ltd; a Brooks, Lts; a Lockman, Ltd; a Eichenberg, Ltd; a CVExictos, Lda; a Mexcitos, Lda; e a Filmdrechtrsch Unipessoal, Lda. Sobre estas empresas e a anotação que fez de
“Grupo”, rejeitou que o mesmo possa ser denominado grupo Atlântico, como sugerido pela defesa de Paulo Blanco (antigo advogado do estado angolano arguido neste caso). Afirmou ainda
desconhecer quem são os verdadeiros donos deste aglomerado de empresas. Não sabendo, inclusivamente, quem fora o beneficiário de uma aeronave comprada pela Feurevogel. Apesar de ser a vez da
defesa colocar questões à testemunhas, o juiz Alfredo Costa mostrou-se estupefacto por Angélica Conchinha não saber a quem pertenciam, uma vez que foi apreendido no seu escritório um
“manancial de informação relativo às empresas”. O nome do general angolano Leopoldino do Nascimento teve algum destaque durante a sessão de ontem, sendo por diversas vezes referido por
Angélica Conchinha, sobretudo relacionado com a sociedade Ifogest.