Troika. União nacional para o défice de 4,5% com 5,5 mil milhões em cima da mesa

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Começou mais uma maratona de Portugal com os seus credores, a oitava e a nona desde que o país atirou a toalha ao chão e pediu ajuda internacional. E promete. Desta vez, Portugal entrou a


matar, com Paulo Portas a mostrar que é diferente de Vítor Gaspar. Em cima da mesa colocou logo a questão de flexibilizar o défice para os 4,5% em 2014, depois de ter ficado assente na


sétima ronda que o valor é 4%. Mais do que isso: numa avaliação que durou quatro meses e foi fechada com a ajuda de Nossa Senhora de Fátima, o governo português prometeu solenemente à


troika, em cartas assinadas pelo primeiro-ministro, em Maio e em Junho, que ia cortar 4700 milhões na despesa do Estado. Não uma promessa vaga, mas com medidas concretas e devidamente


valorizadas. Acontece que Junho já lá vai, o mês de Setembro vai a meio e, de concreto, só existe o plano de rescisões por mútuo acordo que valem 252 milhões de euros em 2014. O resto está


guardado nos corredores do governo, no parlamento ou no calvário do Tribunal Constitucional.


Três a zero para a troika Do lado dos credores há argumentos de peso. Em primeiro, a falta de medidas que possibilitem os cortes. Em segundo, a crise política de Julho, provocada por Vítor


Gaspar e Paulo Portas. Em terceiro, os chumbos sistemáticos do Tribunal Constitucional a medidas importantes. Neste ambiente de incerteza, e apesar de alguns sinais positivos na economia, os


juros da dívida passaram claramente as linhas vermelhas e a troika endureceu posições como nunca tinha acontecido no passado.


Europa azeda As reacções dos parceiros europeus foram violentas. O presidente do Eurogrupo mandou Portugal fazer o que lhe compete e deu um conselho: “É um mau sinal andar por aí a pedir


flexibilização do défice.” Olli Rehn também foi claro na posição da Comissão Europeia sobre o défice: “Não conhecemos nenhum pedido do governo nesse sentido e o melhor que Portugal tem a


fazer é cumprir o que ficou acordado na sétima avaliação.” E o presidente do Mecanismo Europeu de Estabilidade completou o assunto de forma ainda mais transparente: “Em cima da mesa estão


5,5 mil milhões. Cabe a Portugal dizer se os quer ou não.”


Viola e dinheiro no saco A nova estratégia portuguesa nas negociações com a troika foi domingo explicada de forma popular pelo comentador Marcelo Rebelo de Sousa: “A troika tem é de meter a


viola no saco.” Uma fonte comunitária respondeu com algum humor: “Ok, nós não metemos apenas a viola no saco. Metemos também o dinheiro.” E adianta ao i, em tom mais sério, que “os


braços-de-ferro entre credores e devedores costumam ser ganhos pelos primeiros”. E os exemplos da Grécia e, mais recentemente, de Chipre dão razão a Bruxelas. O dinheiro dos resgates só


aparece quando está tudo aprovado e no terreno – algo que Portugal não pode dizer à troika nestas avaliações.


Troika visita parceiros Mas ontem, dia da chegada da troika, com Passos calado sobre a possibilidade de pedir um alargamento das metas do défice, depois de ter dito que ainda “não há uma


decisão” sobre essa matéria, o vice-primeiro-ministro, Paulo Portas, insistiu no final de uma reunião com os parceiros sociais na ideia, dizendo até que “estranho seria, em nome do interesse


nacional, que Portugal não mencionasse esse facto”. Este tom vai ao encontro do defendido pelo Presidente da República (ver página 4) e dos parceiros sociais, que hoje têm oportunidade de


falar com a troika em intervenções iniciais de dez minutos com direito a intérprete. Com Liliana Valente