Crianças são encontradas 3 dias após acidente com barragem no pi

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Na região mais devastada pelo rompimento da barragem Algodões, no Piauí, duas crianças foram encontradas após três dias do acidente que devastou povoados inteiros, na última quarta-feira


(27). Neste sábado, subiu para oito o número de vítimas da tragédia. Ainda há pessoas desaparecidas e as buscas continuam. Os irmãos Eduardo e Henrique Veras, 3 e 4 anos, passaram três dias


perdidos no morro onde foram deixados pelo pai. A mãe está em outra cidade, esperando dar à luz o quarto filho. Os dois irmãos vão ficar agora na casa de um tia. "Os


'bichinhos' [estavam] lá sem roupa e sem nada, dormindo no chão, com frio e com fome, os mosquitos mordendo eles", lembra a tia Rosângela Guimarães. A reportagem do Jornal


Nacional conseguiu chegar neste sábado, pela primeira vez, a um dos lugares destruídos pela força das águas, numa região distante da represa Algodões. Sem estradas, é preciso caminhar 9


quilômetros entre postes destruídos, móveis e eletrodomésticos espalhados por todos os lugares. Amigos das vítimas conseguiram chegar com motocicletas para ajudar no socorro. De carona, foi


possível chegar até um povoado onde a água passou muito perto das casas. "Saíram uns correndo por dentro do mato, outros pelas estradas, para ver se alcançava o caminho antes da água


tomar tudo", descreve a agricultora Deline Félix. A agricultora Maria do Rosário tenta se acalmar. Ela ainda está abalada pela tragédia que presenciou. "Morreram cinco pessoas da


minha família. Minha mãe, meu cunhado e três sobrinhos. Meu irmão com uma criancinha de 1 ano, tentou salvar, mas não conseguiu. Foi embora e não foi encontrada", disse. No povoado de


Angico Branco, que fica a 15 km do local onde a represa arrebentou, viviam mais de 150 famílias, segundo os moradores. Da igreja do povoado, sobrou apenas um pedaço de parede. Numa parte


mais alta do povoado, a única casa que resistiu ficou apenas com o retrato do casal de agricultores. Onze pessoas passaram mais de 5 horas no telhado esperando a água baixar. "Onde


pessoas onde tinham oito idosos. Só tinham quatro pessoas que podiam lidar com eles e um deficiente de um pé, praticamente. Nós chegamos aqui [no telhado] nadando", conta o agricultor


Cladiomar Souza. Em toda a região atingida pela enxurrada de 50 bilhões de litros de água da barragem Algodões, estima-se que mais de 30 mil animais tenham sido mortos. Árvores e plantas


levarão muito tempo para crescer e refazer a paisagem de antes. As pessoas que sobreviveram, não sabem como será daqui para frente. "E agora o que é que a gente vai fazer? Nada. Só Deus


agora", lamenta um agricultor Francisco Ribeiro. NO MEIO DA ÁGUA Quando a barragem estourou, o aposentado Corsino dos Santos ficou no meio do caminho da água, com a mulher e a filha.


Só pode contar com uma ajuda. "Eu só via aquele mar revirando tudo, passando animais, móveis, e a gente no meio daquilo. Ora afundava, ora vinha à tona. Até que Deus mandou uma árvore


que agüentou um pouco mais", conta. Agora, a mobilização pelas vítimas vem dos voluntários, militares e profissionais de saúde. O Exército se juntou a eles para levar roupas, alimentos


e remédios às mais de 3 mil pessoas que tiveram que abandonar as casas. O socorro às família que estão isoladas há três dias ganhou neste sábado um importante reforço: um helicóptero da


Força Aérea brasileira. A aeronave estava em missão nas enchentes do Maranhão e pode transportar até duas toneladas. O primeiro voo foi sobre as áreas mais afastadas da barragem, onde as


águas demoraram mais a chegar e pegou os moradores de surpresa durante a noite. A devastação impressionou quem está acostumado a trabalhar em catástrofes. "Veio uma onda bem grande com


o estouro da barragem e eu diria que até uns 150 metros das duas margens do rio, a água varreu completamente", relata o tenente da Força Aérea Michelton Assis. Os moradores que


conseguiram escapar, corriam em direção ao helicóptero. Para a maioria, esse era o primeiro contato com alguém de fora da comunidade depois da tragédia. Com fome e com sede, eles mesmos


organizaram correntes humanas para distribuir as doações entre os vizinhos. Veja também