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Fui ver ontem, após comemorar a vitória do Flamengo, “Capitão América 2: O Soldado Invernal”. Diversão garantida, principalmente pelos efeitos especiais. Já disse aqui e repito: quando quero
diálogos profundos e inteligentes, prefiro um bom livro; cinema, em minha humilde opinião, está mais voltado para a diversão mesmo, de preferência com muito dinheiro investido na produção
(no caso, US$ 170 milhões). É que você acaba transportado para um mundo totalmente à parte, em que porta-aviões gigantes voam, perseguições incríveis ocorrem no meio da rua ou no ar, lutas
fantásticas prendem o espectador na cadeira sob forte adrenalina. O que posso fazer? A criança é o pai do homem, e já era fã da Marvel quando era moleque. Ver tudo isso transportado para a
telona em 3D é de tirar o chapéu. Dito isso, até que o filme tem sua mensagem política. Capitão América, dessa vez, descobre que o inimigo não é só o “outro”, a KGB, os “comunas”, mas também
gente de dentro, da própria S.H.I.E.L.D., uma espécie de NSA (National Security Agency). A HYDRA usa os agentes americanos para manter o poder, o domínio mundial. Snowden é parte do filme.
O grande dilema filosófico de “Capitão América 2” é o velho debate sobre o utilitarismo: até que ponto, para manter a segurança, podemos abrir mão da liberdade? Os fins nobres justificam
quaisquer meios? Matar 20 milhões de inocentes para oferecer paz aos demais 7 bilhões é justo? E se fosse a sua filha sequestrada por terroristas e você pudesse apertar um botão e salvá-la,
com isso matando vários inocentes? Benjamin Franklin disse: “Aqueles que abrem mão da liberdade essencial por um pouco de segurança temporária não merecem nem liberdade nem segurança”. Muito
bonito. Recado importante. Na prática, porém, alguns vão sempre sujar um pouco mais as mãos na lama para preservar a liberdade essencial. O difícil é achar o equilíbrio, encontrar um meio
de fazer isso sem se transformar no monstro que se pretende combater. O governo americano deve espionar todo mundo, por exemplo? Claro que não. Mas só alguém muito ingênuo acredita que a
solução é não espionar mais ninguém. O pacifismo é um tanto boboca, não é realista, ignora que do outro lado sempre haverá quem queira destruir nossa liberdade com o método que for.
Complicado, no mundo real, é lutar contra esses sem sacrificar o que temos de mais nobre. Não há resposta fácil. Desconfio de qualquer modelo pronto, purista, esculpido em uma Torre de
Marfim, que ignora os dilemas concretos da vida em sociedade. E, naturalmente, não temos um Capitão América para “salvar o mundo”, mas precisamos de heróis como ele, patriotas e dispostos a
fazer a coisa certa, até para impedir os abusos do poder concedido para nos proteger. Quem vigia o vigia? Por fim, outra mensagem do filme (ATENÇÃO: com spoiler!) é o potencial de redenção,
a força da amizade verdadeira, capaz de tirar o outro do lado errado da força, e trazê-lo para o lado de cá, para fazer o que é certo, o que deve ser feito. Nem toda a lavagem cerebral foi
capaz de superar a força dessa amizade. Romântico, sem dúvida. Mas uma bela mensagem… PS: Só o fato de a cultura americana ter esse tipo de crítica aos seus excessos, um alerta contra o
abuso de poder do próprio governo, já mostra como é mais avançada e preocupada em preservar a liberdade, em comparação com regimes que simplesmente impedem tais autocríticas. _Rodrigo
Constantino_