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Essa onda de protestos parece para muitos um raio em céu claro, alternando aleatoriamente vandalismo e patriotismo sonhador, sem origem e sem destino que não uma vaga utopia. Coloquemos,
assim, os pés cuidadosamente no chão e examinemos o que se passa. Inicialmente, tratava-se de uma jogada política suja, um outro round do mesmo fenômeno dos assassinatos de policiais em São
Paulo às vésperas das eleições municipais. O objetivo, desta vez, era um pouco mais ambicioso: arrancar do PSDB (único partido de esquerda que não é membro do Foro de São Paulo) o governo do
estado. A desculpa, perfeita em seu utilitarismo, era o aumento da passagem de ônibus; bastaria o prefeito petista recuar para fazer-se de herói, enquanto o governador tucano teria de arcar
com os custos políticos da repressão policial e do inevitável aumento do metrô, que pertence ao estado. Os protestos, contudo, fizeram soar algo que parecia adormecido no âmago da juventude
de classe média: um vazio completo de perspectivas e de objetivos além do material. Já dizia o poeta: "A gente não quer só comida; a gente quer saída para qualquer parte". Essa
juventude, hoje na faixa dos 20 anos, aprendeu nas aulas de marxismo aplicado que na escola dizem ser aulas de História, Geografia e Sociologia que é glorioso rebelar-se contra o poder. O
único poder que conhecem, contudo, é o do PT, que ocupa a Presidência desde que se entendem por gente. O feitiço virou contra o feiticeiro. E o movimento cresceu, passando a expressar não
mais um objetivo político de curto prazo, mas a exasperação de toda uma geração com o Brasil que lhes foi preparado, em que a política é uma farsa, a economia é uma mentira e a cultura
inexiste. Seus avós se levantaram da mesma maneira 49 anos atrás, renegando da mesma maneira as bandeiras vermelhas dos construtores de distopias assassinas. Ao contrário de hoje, contudo,
havia então uma noção de algo a preservar. Havia justo temor, não exasperação. Hoje, o que temos é um cavalo branco desgovernado, passando encilhado pelas ruas. Cada candidato ao poder o vê
como seu, e sonha em montá-lo. Dilma e Lula já estão trancados com um marqueteiro, conspirando. Outros falsos messias estão esperando nas sombras. Para que algo de bom surja desses
protestos, compete a cada brasileiro, a cada jovem que partilha desta exasperação em massa, negar-lhes esta sela. Que o cavalo vá embora; que sua sela fétida não atraia mais que moscas. Não
precisamos de salvadores, sim de paz social. Façamos, não deleguemos. Veja também