Chávez mira china para compensar perda de retórica anti-imperialista

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Chávez mantém influência em oito principais países latino-americanos Há algo de estranho quando Hugo Chávez e o presidente dos EUA estão do mesmo lado. A condenação de ambos à deposição do


presidente de Honduras, Manuel Zelaya, revela o quanto o fim da polarização da era Bush enfraqueceu o discurso anti-imperialista do líder venezuelano: não há mais um grande satã nas Américas


cuja derrota só seria possível pela integração regional. Agora, Chávez busca novos métodos para manter sua influência na política latino-americana. "A chegada de Barack Obama sinaliza


que Chávez precisa diversificar a agenda própria, e não mais gravitar em torno de um oponente desejável", diz o pesquisador do laboratório de Estudos do Tempo Presente da Universidade


Federal do Rio de Janeiro, Daniel Santiago Chaves. "Muita coisa que Hugo Chávez acusa nos EUA não tem mais cabimento", complementa o professor de Relações Internacionais da


Pontifícia Universidade Católica de Brasília, Juliano Cortinhas. Entre os novos métodos, Chávez lança mão até de alguns consagrados por seus rivais do norte, como a sanção econômica. Na


semana passada, suspendeu o envio de petróleo a Honduras como pressão ao governo que considera golpista. O país comprava óleo com as vantagens do adiamento da conta previsto pelos acordos da


Petrocaribe. Além do esfriamento retórico, Chávez perde força com seu maior poder de barganha, as reservas de petróleo da Venezuela. Com o barril do produto, que já bateu em US$ 147,


valendo menos de US$ 60, ficou mais difícil sustentar o assistencialismo a outros países. Já para o presidente deposto, cuja guinada à esquerda foi influenciada pelo ideário bolivariano,


Chávez emprestou um avião para uma tentativa de retorno frustrada a Honduras. "A influência não vai diminuir abruptamente, mas espera-se que seja mais discreta e pontual. E ele (Chávez)


terá que manejar melhor o dinheiro", diz a professora da Universidade Central da Venezuela, Margarita López-Maya. Com o enfraquecimento da retórica e do poder de barganha, surge a


necessidade (ou oportunidade, dependendo do ponto de vista) de buscar novas áreas de atuação. E nisso Chávez não mira baixo. Depois de atrair parcerias com o Irã de Mahmoud Ahmadinejad –


líder do Eixo do Mal, também integrado por Chávez, segundo o governo Bush –, e de, supostamente, oferecer o território para a instalação de bases militares russas, o venezuelano agora quer a


China. Na última terça, representantes dos aliados Venezuela, Cuba, Equador e Bolívia apresentaram o projeto da Aliança Bolivariana para as Américas (Alba) a especialistas chineses em


América Latina. O quarteto quer atrair o investimento chinês em projetos tanto econômicos quanto culturais. A embaixadora da Venezuela em Pequim, Rocío Maneiro, liderou a apresentação e


cravou a retórica bolivariana: para a China entrar na América Latina – o que o país comunista teria interesse de fazer, nos moldes da exploração de recursos naturais africanos – a porta de


entrada é a Alba. Maneiro chegou a afirmar que, "se a China se interessa pela América Latina, não pode entendê-la sem conhecer a Alba". O próximo passo será namorar empresas e


bancos chineses. Outra tendência, na opinião do pesquisador da UFRJ Daniel Chaves, é que haja diversificação também no comércio da região. Os acordos da Petrocaribe já preveem a troca de


recursos naturais por petróleo. "Honduras tem produtos agrícolas, a Bolívia tem a possibilidade de explorar novos recursos naturais, como o lítio e o urânio", enumera Chaves. A


integração passa também pelo intercâmbio de profissionais, como os petroleiros venezuelanos enviados à Bolívia e os médicos cubanos que trabalham em outros países. RETÓRICA Com retórica


enfraquecida ou não, a marca registrada de Chávez de criticar todo e qualquer ato da diplomacia norte-americana está sendo mantida. Apesar de EUA e Venezuela condenarem conjuntamente a


retirada de Zelaya do poder, na sexta-feira ele criticou que os EUA deem o mesmo tratamento ao presidente deposto e ao interino, Roberto Micheletti. Também nesta semana recusou o discurso da


secretária de Estado americana, Hillary Clinton, que afirmou à tevê de oposição em Caracas que espera o reconhecimento pela Venezuela de que "é possível exercer liderança sem acumular


muito poder e silenciar os críticos". Chávez aproveitou para dizer que nada mudou: os EUA estariam mantendo a tática de criticar a democracia do país. * * * * * * * * INTERATIVIDADE O


Brasil deve aproveitar a perda de poder de Chávez em sua política de influenciar países latinos para buscar maior liderança regional? Escreva para [email protected] As cartas


selecionadas serão publicadas na Coluna do Leitor.