Usuário paga por energia de linha que não é usada

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No papel, a obra conta com o selo de "concluída" desde 29 de outubro, de acordo com o último balanço do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Ao longo de 4,75 mil


quilômetros, toda a estrutura já foi montada para o segundo circuito de transmissão levar energia elétrica das usinas do Rio Madeira até a cidade de Araraquara (SP) e, daí, para todo o


subsistema Sudeste/Centro-Oeste. Os empreendedores já recebem pelos serviços prestados, uma vez que a obra está pronta. Na prática, porém, o segundo linhão do Madeira ainda não fez acender


uma lâmpada sequer no Sudeste. E nem o fará pelo menos até abril. Essa obra, que trará energia das usinas de Jirau e Santo Antônio, em Rondônia, para o Sudeste do país, é uma entre as tantas


atrasadas que oneram as contas e levam a restrições na oferta de energia para os principais centros de consumo do país. É exatamente pela dificuldade do sistema em mover grandes blocos de


energia de uma região para outra que o Brasil neste verão está convivendo com a sombra de apagões, como o ocorrido em 11 estados e no Distrito Federal no dia 19 de janeiro. Mesmo com o


sistema pronto desde outubro, os atrasos na construção das hidrelétricas de Jirau e Santo Antônio reduziram a demanda pela nova linha de transmissão, que tem orçamento total de R$ 4,9


bilhões. Embora não tenham entrado em operação comercial, as empresas responsáveis pelo linhão e pela conversora de energia vêm recebendo receita equivalente a mais de R$ 400 milhões ao ano


desde que suas instalações ficaram prontas, o que acaba pressionando para cima as tarifas de energia de todo o país, já que esses custos são repassados ao consumidor. Como não havia demanda


pelo segundo circuito, devido ao atraso na construção das usinas, que ainda operam parcialmente, o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) preferiu não testar o sistema durante o verão,


para evitar riscos de derrubar o primeiro circuito e provocar novos blecautes no Sudeste. Os testes preliminares, que implicam desligamento de proteções, foram adiados para depois do


carnaval, para evitar notícias ruins durante a festa popular. O ONS é a instituição responsável por administrar o sistema interligado, incluindo a autorização de testes e análises de demanda


e riscos. PREJUÍZO Se estivesse em operação, trazendo 6,3 mil MW de energia do Madeira ao Sudeste, e não apenas cerca de 3 mil MW, o linhão do Madeira poderia economizar água nos


reservatórios ou reduzir a demanda por termelétricas, o que aumentaria a segurança energética e diminuiria os custos de operação do sistema. Segundo estudo da Firjan, os atrasos em obras de


usinas para geração de energia elétrica no Brasil entre 2006 e 2014 custaram R$ 65,1 bilhões ao país. NÍVEL MAIS BAIXO A previsão de chuvas mais brandas no final de fevereiro levou o ONS a


projetar uma situação menos favorável para o nível dos reservatórios ao final do mês. Ontem, o operador previu que as chuvas na região Sudeste/Centro-Oeste, responsável por 70% da capacidade


de armazenamento do país, serão menores do que o previsto na semana passada (22,7%) e, com isso, os reservatórios terão apenas 21,2% da capacidade. Na última quinta-feira, estavam com


19,17% da capacidade.