Sem contrato de gás natural, ueg só deve funcionar em 2010

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Em funcionamento desde 9 de setembro, a Usina Termelétrica de Araucária (UEG Araucária) vai gerar energia elétrica somente até 31 de outubro, quando termina o contrato de curto prazo firmado


com a Petrobrás para o fornecimento do gás natural que move suas turbinas. A usina – centro de uma das maiores polêmicas do governo Requião – só deve voltar a funcionar a partir de 2010.


Até lá, a UEG, que custou à Copel mais de R$ 800 milhões, terá operado comercialmente por exatos 55 dias após quase oito anos de sua inauguração. Enquanto isso, projeções de especialistas


apontam que, caso a economia cresça consistentemente, o país poderá sofrer uma nova crise energética até 2009. Há dois motivos principais para a interrupção no funcionamento da UEG. Um deles


é que a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) acredita que a situação dos reservatórios das hidrelétricas paranaenses terá melhorado até o fim do ano – gerando mais energia, elas


dispensarão o uso da termelétrica, que tem capacidade de 480 megawatts (MW). A recente operação da UEG tem caráter emergencial, solicitada pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS). A


outra razão é que a Petrobrás rescindiu, em junho de 2005, por falta de pagamento, o contrato pelo qual fornecia 2,1 milhões de metros cúbicos de gás por dia à Copel – com garantia de


abastecimento e preços vantajosos para a companhia paranaense. A petroleira, que tem os 20% restantes do capital da UEG, não recebia as parcelas mensais desde 2003, quando os pagamentos


foram suspensos por ordem do então recém-empossado Requião. O contrato atual, portanto, é emergencial: a Petrobras só está fornecendo o combustível por pedido do ONS. Depois, a Copel terá de


firmar um novo contrato para comprar gás da Petrobrás. A julgar pelas turbulências bolivianas, o futuro acordo dificilmente contemplará a garantia de suprimento e preços mais baixos, como


tinha o primeiro. Uma saída alternativa, acenada pelas duas companhias, é a Petrobrás arrendar a usina. A companhia admite estar avaliando essa possibilidade mas informou apenas que "as


negociações ainda se encontram em fase preliminar". A operação a partir de 2010 coincidiria com a entrada em vigor de contratos de venda de energia elétrica que a Copel pretende


conquistar nos próximos leilões de energia nova da Aneel. Também no início da próxima década, a Petrobrás espera já ter elevado substancialmente a produção nacional de gás natural e colocado


em funcionamento duas usinas de processamento de gás natural liquefeito (GNL) importado. Em tese, esses investimentos reduzirão a dependência do gás boliviano. Nesse meio tempo, o país


tende a manter a oferta milimetricamente ajustada à demanda, ou ainda reprimir a demanda – o que põe em dúvida a pretensão da Copel de deixar a usina disponível para "suprir eventuais


necessidades de consumidores livres [grandes empresas], com contratos de curto prazo" nos anos de 2008 e 2009. Não foi só a crise desencadeada pelo presidente boliviano Evo Morales que


evidenciou a escassez de gás no Brasil. A estiagem prolongada no Sul do país reduziu a capacidade de geração das hidrelétricas e obrigou o ONS a determinar o funcionamento das termelétricas


– planejadas na época do apagão de 2001, justamente para entrar em funcionamento em momentos críticos. Para se ter uma idéia do descompasso energético do Brasil, cinco térmicas brasileiras –


em Camaçari (BA), Canoas (RS), Cuiabá (MT), Macaé e Seropédica (RJ) –, que deveriam estar funcionando para gerar energia a custos mais baixos que as demais, estão paradas por falta de


combustível. A usina de Canoas, que consome 1 milhão de metros cúbicos de gás por dia, está parada exclusivamente por causa da UEG Araucária. Como a UEG tem rendimento superior à térmica


gaúcha, a Petrobrás optou por cortar o fornecimento de 1 milhão de metros cúbicos de gás para ela e poder, assim, abastecer a UEG. Se continuar chovendo pouco, o fornecimento de gás para


Araucária pode ser prorrogado até dezembro, revela o diretor da Compagás (subsidiária da Copel que distribui gás canalizado no Paraná), Luiz Carlos Meinert.