Canelinhas de ouro

feature-image

Play all audios:

Loading...

Já foi um tempo em que o futebol era uma das minhas paixões: euforia com as vitórias e tristeza com as derrotas. Com o passar dos anos fui me desligando, talvez por ser corintiano, e ter


amargado tantos campeonatos frustrados. Mas nunca deixei de apreciar o belo esporte. Há pouco tempo li uma bela reportagem no último número da revista National Geographical Magazine sobre a


evolução do futebol no mundo onde os vários articulistas destacam as peculiaridades de cada nação. No capítulo reservado ao Brasil, os comentários são os mais lisonjeiros, a começar pelo


título da matéria que diz: "Brasil um ballet com a bola". Apesar da revista ser de junho de 2006, a reportagem foi elaborada antes da Copa do Mundo. Penso que o tom seria bem


diferente depois do grande fiasco que nossos jogadores e equipe técnica aprontaram na Alemanha. Frustrado como todo brasileiro, tinha prometido não tocar mais nesse assunto. Mas um


telefonema da minha amiga de infância, a professora Joaninha, fez acender em mim a chama da revolta e do inconformismo. Achando que eu me mantinha como o mesmo entendido da nossa juventude,


ela queria saber o que eu pensava sobre o papel tão melancólico da nossa seleção. Disse a ela que não sou técnico de futebol e nem entendo o tanto quanto entendia no passado. Mas considerei


a derrota do Brasil para a França uma decorrência da falta de articulação e entrosamento dos jogadores ao que ela me respondeu: Eu entendo menos ainda. Mas não precisa ser especialista para


ver que uma vergonhosa falta de garra dominou as nossas "canelinhas de ouro" naquele jogo contra os franceses. Aliás, aduziu ela, por que haveriam eles de suar a camisa se cada um


já garantiu sua vida individualmente, jogando e ganhando como estrela de quinta grandeza nos times da Europa? Pensei bem e achei que, na sua pretensa ignorância de futebol, a Joaninha tem


razão: quem plasma a sua vida como estrela individual perde a capacidade de jogar em equipe. Isso vale para o esporte assim como vale para o trabalho. No caso dos jogadores, os milionários


contratos que têm lhes garante, por anos a fio, uma vida segura e confortável, o que empurra para o segundo plano a vitória que seu povo espera. O assunto já é café requentado. Mas,


instigado pela amiga, me veio a vontade de pôr para fora a minha profunda decepção e lançar um apelo aos nossos cartolas para que tirem uma boa lição desse retumbante fracasso. ANTÔNIO


ERMÍRIO DE MORAES É EMPORESÁRIO. [email protected]