A POLÊMICA DOS BEBÊS REBORN

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Bonecas hiper-realistas, de olhos de vidro, produzidas de forma artesanal com material sintético e funções assemelhadas à de um bebê normal para imitar a recém-nascidos: os bebês reborn se


transformam em polêmica. Seu manual de manejo alerta para o fato de que o objeto infantilizado precisa de cuidados constantes, amamentação regrada, ficando sujeito, inclusive, ao estado


febril, caso seus pais deixem-na sem a devida atenção. E, por fim, periga chegar à situação trágica de um óbito em consequência de desleixo e abandono. A fatalidade, em suma, resultaria por


desmazelo e negligência. Seu preço chega a custar até R$ 3 mil. Já pululam os relatos de “mães de bebês reborn”, que atravessam a noite em claro na tentativa de fazer a boneca dormir. Ou


mesmo depoimentos dos que levam aquilo que deveria ser um brinquedo a um posto de pronto atendimento do Sistema Único de Saúde (SUS), quando a boneca sinaliza temperatura corporal acima do


normal, portanto, causadora de febre se comparada a de um ser humano. São realidades atuais que, em período recente, se achavam impensáveis. “Pais adotivos” de bebês reborn gastam com


enxovais, tentam registrar em cartório o “filho” fictício, criam redes sociais para o “bebê” e desejam acionar o Poder Judiciário para brigar pela guarda do reborn, quando o casal entra em


litígio. A advogada Suzana Ferreira registrou mais de 3 milhões de visualizações em uma declaração que deu sobre uma pretensa “mãe” que a procurou, em Goiânia (GO), dizendo ter constituído


uma família na qual o bebê reborn era parte integrante. Agora, ao se separar do “pai”, quer batalhar na Justiça pela guarda da boneca. Ao recusar a ação, até porque no direito brasileiro


seres inanimados não são considerados sujeitos de direito, a advogada revelou que foi acusada de “intolerância materna” pela “mãe reborn”. No Rio de Janeiro, vereadores aprovaram, no dia 7


de maio passado, um projeto de lei que estabelece oficialmente o “Dia da Cegonha Reborn”, em homenagem às inventivas artesãs criadoras dessas bonecas. Se o projeto passar pelo crivo do


prefeito Eduardo Paes (PSD), isto é, com sua anuência, a data comemorativa será celebrada no dia 4 de setembro. Em meio a essa onda surrealista e acontecimentos antes inimagináveis,


deputados apresentaram na Câmara Federal, em Brasília, na última quinta-feira (15 de maio), três projetos de lei com sugestões para criação de restrições a bonecos hiper-realistas e a suas


“mamães”. Dentre as quais, proibição de atendimento em unidades de saúde pública e privada, vedação a uso de assento preferencial e outros benefícios assegurados a mães de crianças de colo


pelas “mães” de bebês reborn – sim existem relatos de “mães” reborn, que exigem acessos preferenciais em transportes públicos e buscam benefícios como se fossem mães de recém-nascidos. Um


outro projeto, de autoria da deputada Rosângela Moro (União Brasil), defende o acolhimento pela Rede de Atenção Psicossocial – RAPS, ligada ao SUS, para pessoas com vínculo afetivo com


bonecos hiper-realistas. O que começou como uma vertente artística e lúdica toma dimensões de substituição de filhos, que pode impactar o ordenamento jurídico, os serviços públicos e até a


formulação de políticas sociais. No próximo dia 25 de maio celebra-se o Dia Nacional da Adoção. O Brasil tem mais de 4 mil meninos e meninas aguardando por um lar, segundo dados do Sistema


Nacional de Adoção e Acolhimento. Na Semana Nacional da Adoção, o Instituto Dom Luciano Mendes de Almeida (IDL-Pró-Vida), que tem como objetivo a proteção de crianças carentes, uma das


bandeiras do ex-arcebispo de Mariana, falecido em 27 de agosto de 2006, pretende iniciar uma campanha junto à sociedade em prol da adoção dessas crianças, que aguardam nas filas de adoção


por este momento de afeto e aconchego doméstico. Com o título “Não adote uma boneca; adote uma criança”, o IDL-Pró-vida, de acordo com a sua diretora executiva, Vanessa Castro, deseja


sensibilizar os casais "para a importância e a beleza do gesto nobre da adoção e conscientizar as autoridades da necessidade de se simplificar e agilizar os processos de adoção".