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Janaúba – O cacau tem como grandes produtores no Brasil os estados do Pará e da Bahia, que concentram 96% da produção nacional, com pequena parcela de plantio em alguns outros estados como
Espírito Santo, Amazonas e Rondônia, segundo o Ministério da Agricultura e Pecuária. Mas, a cultura da matéria-prima do chocolate tem avançado nas chamadas regiões “não tradicionais do
cacau”. Uma dessas áreas é o semiárido Norte de Minas, que tem a perspectiva de virar um polo da cacauicultura, surgindo uma estratégia para convivência com a seca histórica que castiga esta
parte do estado. Os bons ventos sopram a favor da nova cultura em Janaúba, cidade que hoje se destaca pela produção de banana em sistema irrigado, o mesmo adotado nas lavouras cacaueiras.
As condições favoráveis da região para a produção do cacau foram identificadas por meio de pesquisas que vêm sendo realizadas há 11 anos pela Universidade Estadual de Montes Claros
(Unimontes), em Janaúba. Os experimentos indicam que o plantio irrigado do fruto na região, com adoção de tecnologia de ponta, resulta em alta produtividade, superando a adversidade do
regime de poucas chuvas no semiárido. O município de Janaúba não está muito distante (em torno de 680 quilômetros de Ilhéus, no Sudoeste baiano, que ganhou fama pela grande produção do
cacau, sobretudo, nas primeiras décadas do século 20, com história do fruto enriquecida nas obras do escritor Jorge Amado (1912/2001), nascido naquela região – em Itabuna (distante 33
quilômetros de Ilhéus). As boas perspectivas da atividade cacaueira no sertão mineiro são reforçadas pela Nestlé, uma das maiores produtoras de chocolate do mundo, que também decidiu apostar
no potencial da região. “Entre as regiões não tradicionais que estão cultivando cacau no Brasil, a mais promissora nesse momento é o Norte de Minas”, afirma o engenheiro agrônomo Igor Mota,
gerente de Agricultura de Cacau da Nestlé Brasil. Ele salienta que, hoje, ainda na fase inicial da cultura na região, já existem no Norte mineiro mais de 500 hectares de cacau plantados,
que já estão produzindo ou devem estar em produção nos próximos 12 meses. Por outro lado, destaca que a região tem o potencial para alcançar mais de 5 mil hectares cultivados do fruto dentro
de uma década. Numa demonstração de que acredita no potencial do Norte de Minas como uma “nova fronteira agrícola do cacau”, na primeira quinzena de maio, a Nestlé promoveu em Janaúba uma
edição do Programa Cacuicultores do Futuro. A inciativa está inserida no Cocoa Plan, maior programa de sustentabilidade da cacauicultura brasileira, com mais de 6 mil produtores parceiros da
multinacional. Pela primeira vez, Minas Gerais recebeu uma ediçao do Cacaiucultores do Futuro. Durante três dias, foram capacitados 40 jovens produtores rurais, estudantes interessados na
produção cacaueira. Eles assistiram a palestras e participaram de atividades práticas relacionadas ao cultivo da planta. Também visitaram propriedades que já contam com plantio de cacau e
aprenderam novas tecnologias e soluções inovadoras para a condução da cultura de forma sustentável e eficiente. GARANTIA DE PREÇO O gerente de Agricultura de Cacau da Nestlé Brasil, Igor
Mota, que participou do evento em Janaúba, salienta que os agricultores do Norte de Minas estão trocando a banana e outras culturas pelo cultivo do cacau por enxergarem uma nova oportunidade
de negócio. Ele afirma que os agricultores perceberam que a produção do cacau é mais lucrativa, sobretudo por ser uma comoditie e, por isso, ter maior garantia de preço, inclusive, no
mercado internacional. Igor Mota lembra que o cacau entra em produção com cerca de 2,5 anos a 3 anos depois de plantado e atinge o pico de produtividade com cinco anos de vida. Salienta que
uma das vantagens da planta, a partir do momento que começa a produzir, é que os frutos podem ser colhidos o ano inteiro, com dois períodos em maior intensidade (junho a agosto e de dezembro
a fevereiro). O engenheiro agrônomo ressalta que o plantio do cacau pode ser implementado no Norte de Minas por sistema irrigado, o que ajuda a superar a carência de chuvas. Neste aspecto,
a cultura tem como vantagem a exigência de pouca água. “O cacau demanda a metade ou menos da quantidade de água exigida pela produção de banana. Entra aí a questão do uso racional da água. E
se você precisa de menos água para poder produzir e faturar o mesmo valor ou mais, isso é mais sustentável”, observa Igor Mota. O representante da Nestlé explica que a multinacional oferece
uma série de benefícios para os agricultores inseridos no seu programa voltado para a sustentabilidade e melhoria da produção cacaueira. Uma das vantagens ofertadas pela empresa para os
participantes do programa é um prêmio financeiro pela qualidade do cacau produzido de maneira sustentável. “Se o produtor faz parte do programa e negocia conosco, ele tem um prêmio e recebe
um valor acima do preço de mercado”, explica Igor Mota. Ele informa que os cacauicultores integrantes do programa também contam com assistência técnica, treinamentos sobre poda e enxertia e
outros auxílios. Igor Mota lembra ainda que o Norte de Minas é uma região estratégica para a Nestlé, que já tem fábricas em Montes Claros (de leite condensado e café em cápsula). CACAU
SUBSTITUI BANANA Os plantios de cacau estão substituindo as áreas do cultivo de banana em Janaúba. Essa “transição” é conferida na Fazenda da Rimo Agroindustrial, visitada pelos
participantes do Programa “Cacauicultores do Futuro” da Nestlé. A propriedade já tem 120 hectares plantados do cacau. Ali, o cacau está sendo cultivado em terrenos até então ocupados pelos
bananais, em um sistema “consórcio temporário” – isso porque, à medida que os pés de banana atingem o momento de corte, são eliminados, permanecendo somente os pés do fruto transformado em
chocolate. O gerente administrativo da Fazenda Rimo, Geraldo Pereira da Silva, relata que a empresa agrícola sempre teve a bananicultura irrigada como seu carro-chefe. Mas quase entrou em
colapso com a falta d'água para manter as plantações com a crise hídrica dos anos de 2016 e 2017. Aí, com base nos bons resultados de experimento sobre o plantio irrigado do cacau na
região, realizado pela Unimontes, decidiu apostar na nova cultura. “Passamos a procurar uma nova cultura que exigia menos água”, explica Geraldo. Ele lembra que outros fatores também levaram
a empresa a substituir os bananais pelo plantio de cacau, entre os quais o enfrentamento de doença que ataca a cultura da banana (o mal do Panamá) e a falta de garantia do preço da fruta do
mercado, com queda elevada nos períodos de safra. CULTIVO NO VALE DO MUCURI A produção de cacau também tem adeptos fora do Norte do estado. É o caso de Jonathan Duque Rosa, que percorreu
700 quilômetros do município de Poté, no Vale do Mucuri, até Janaúba para participar do treinamento sobre a cultura, oferecido pela Nestlé. Jonathan conta que se interessou pelo cultivo do
cacau há alguns anos, quando casou, deixou a cidade e adquiriu uma propriedade rural, onde passou a morar junto com a esposa. Ele confessa que ainda é um “iniciante” na cacauicultura,
contando com um pequeno plantio. Mas revela que sua ideia é investir na área. “Primeiramente, vou plantar uma área de teste de 1,5 hectare de cacau, cerca de 1.600 mudas”, disse o
agricultor, lembrando que nos últimos anos procurou aprender tudo sobre o plantio do cacau – entre outras atividades, fez curso sobre a poda e a condução da planta e passou a acompanhar o
preço de venda do cacau no mercado. Jonathan informou ainda que pretende servir de “modelo” para outros agricultores de sua região enveredarem pelo caminho da cultura cacaueira. PESQUISA EM
UNIVERSIDADE Os bons resultados das pesquisas sobre a adaptação da planta ao clima da região incrementaram o cultivo do cacau irrigado em Janaúba, no Norte de Minas. Os experimentos sobre a
aptidão da região para o cacau foram iniciados em 2013, sendo coordenados pelo professor Victor Martins Maia, do curso de Agronomia, no Campus da Universidade Estadual de Montes Claros
(Unimontes), em Janaúba. O gerente de Agricultura de Cacau da Nestlé Brasil, Igor Mota, confirma que a pesquisa da universidade foi a “virada de chave” para que os agricultores da região
apostassem no plantio do cacau, começando a trocar o cultivo de banana e manga e outras frutas pela nova cultura. “Depois da validação científica da Unimontes, o produtor entendeu que o
cacau tem aptidão, pode ser produzido na região, e não tem a mesma perecibilidade que frutas como banana. Com o cacau, o produtor tem mais poder de negociação. Pode estocar o produto e tomar
a decisão de esperar o melhor momento para a venda da colheita”, descreve Mota. O representante da Nestlé chama atenção para a importância da pesquisa científica para o agronegócio. “Tudo
começa na pesquisa. Mas, a propriedade rural não é o lugar para fazer testes. O produtor não pode correr riscos de perder investimentos. Então, foi na academia, na Unimontes, onde foi
testada e aprovada tecnicamente a possiblidade de cultivar o cacau na região”, afirma Mota. O professor e pesquisador Victor Martins Maia, por sua vez, assegura que, ao longo de 11 anos de
trabalho com experimentos sobre o tema, levantou dados positivos sobre o potencial do cultivo do cacau no Norte de Minas e em outras áreas de clima semiárido. “A cultura do cacau se adaptou
aqui na região muito bem. É uma cultura de clima tropical, de clima quente. Nós temos temperaturas boas para a produção de cacau. O que nos falta é água. Então, basta irrigar”, afirma o
pesquisador. “As perspectivas para a cacauicultura no Norte de Minas e também nas regiões não tradicionais indicam que essas áreas comerciais deverão crescer bastante. Esperamos ter polos de
produção de cacau relevantes para o Brasil e para o mundo nessas regiões. Eu creio que isso deve acontecer dentro de cerca de 10 a 15 anos”, anuncia Victor Maia. “Vimos como principal
diferencial da introdução da produção do cacau na nossa região a nossa capacidade de tecnificar bastante a cultura. Podemos utilizar as tecnologias de ponta disponíveis para produção de
cacau no momento. E, com isso, além de ter a menor incidência de doenças – que representa o principal problema da cacauicultura mundial –, a gente consegue produtividade muito alta. Com o
plantio irrigado e alta tecnologia, podemos atingir uma produtividade de até 10 vezes a média de produtividade dos estados da Bahia e do Pará”, afirma o pesquisador. As pesquisas sobre a
adaptação do cacau no Norte de Minas contaram também com a colaboração de Sabrina Gonçalves Vieira de Castro, que concluiu o curso de Agronomia da Unimontes em Janaúba, onde agora cursa
doutorado em Ciências Agrárias. “O cacau foi introduzido na região justamente porque a gente viu que havia a necessidade de mais conhecimento sobre o assunto por parte dos produtores”,
relata Sabrina, destacando que o cacau representa uma alternativa para que os agricultores da região não tenham que permanecer na dependência apenas do cultivo da banana, que enfrenta
oscilação de preço e riscos de doenças.